terça-feira, agosto 24, 2004

VARGAS - comemoram hoje o suicídio daquele imbecil, daquela coisa estúpida, minúscula, asquerosa e gorda que chamam de vargas. só mesmo uma mídia vendida, babaca e superficial; um povo burlesco (que, aproveitando a palavra, se burla e burla para sobreviver: por isso grotesco); políticos venais; historiadores, sociólogos e antropólogos, politicólogos sem caráter e sem profundidade, lacaios de todos os minúsculos poderes; só mesmo numa coisinha como este brasil para comemorar, para recordar, para “sentir saudade”, para elogiar um ditadorzinho anódino de uma republiqueta sem vergonha. mas é comum por essas paragens verde-amarelas a louvação dos jegues (vivem para louvar e salvaguardar os jegues): todos os ditadores são lembrados como “presidentes da república”, “pai dos pobres”, “político de respeito”: é odioso!
Alberto Lins Caldas

OLIMPIADAS - não param de falar nas olimpíadas: não aceito que não sintam a patetice de tudo isso: por mais de um ano, todos os dias, todas as mídias, falando nesta coisa sem propósito (para vender, com certeza, os produtos do mundo!) e agora os “heróis da pátria”, merdas flutuantes (favelados, suburbanos e pobres de todos os terreiros) da republiqueta (pela pobreza, pela ideologia, pelo medo e pela honra) depois de fazerem todas as cacas possíveis, dão desculpas esfarrapadas (lumpen) que poderia ser a base de alguma piedade, se piedade alguma coisa desse território merecesse piedade: e ainda por cima não são culpados de nada: os que são levam, por um lado, grande parte dos louros e das louras, enquanto os pobres infelizes voltam e se atiram, na miséria que lhes cabe um cauntri deste: ficam velhos, pobres, desdentados, arruinados e ainda são levados em programas de auditório para “servir de exemplo para a juventude” (não sei se notam o horror de tudo isso ou fazem esses festivais de perversidade por inocência pura e elevada).
Alberto Lins Caldas

PÁTRIA - nunca ouvi tanto as palavras brasil, brasileiro, pátria, hino nacional, nacional (e não é por causa das olim-piadas): para esse país infeliz ser considerado fascista basta me processarem por este diário (o fascismo é sempre protegido pelas leis) e mais um ditadorzinho vestido de presidente (um que demore mais do que quatro ou oito anos: o que fizeram foi transformar o “mesmo ditador” em vários presidentes, e uma ditadura em governos) que proponha a obrigatoriedade do nosso-hino nas escolas ou alguma outra idéia brilhante.
Alberto Lins Caldas

LIBERDADE - entregamos sem nenhuma reação todos os aspectos da nossa liberdade (que é feita de minúsculos fragmentos, de frágeis dobradiças, de memórias sutis) em nome de qualquer coisa. para melhorar “a questão da violência”, as câmaras em todas as ruas, em todos os lugares públicos; nas greves, para garantir “a população e a coisa pública”, soldados na rua; para “combater o crime”, assassinatos, torturas, violência, medo, mentiras e impunidade.
Alberto Lins Caldas

VIOLÊNCIA - este é um país não somente mentiroso, mas de má-fé: falam o tempo inteiro em violência (a “principal preocupação dos brasileiros”), como se essa violência propalada fosse a causa de alguma coisa (a causa material, a causa eficiente, a causa final, a causa formal: ou, menos aristotelicamente, a causa suficiente de alguma coisa). a violência é o feixe final, não da “atuação de traficantes”, mas da exploração em todas as instâncias, da brutal extração da mais-valia, da coisificação em todas as relações, da mercantilização de tudo: e da necessidade de tudo isso para o “sistema funcionar”: sem todas as “causas suficientes” não há capitalismo; sem todas as violências não há o que todos querem, o que todos se venderam e se vendem com os dentes expostos, para querer e possuir. a violência é um dos sintomas principais de que tudo segue a normalidade produtiva, a normalidade de consumo, a normalidade institucional e as normalidades imaginárias que fazem do brasileiro, o brasileiro. e se não fosse assim porque os milhões de famintos, violentados, desempregados, os sem-nada, não descem dos morros, são saem das periferias, não tomam para si o que saem do seu suor: porque são cúmplices: fazem parte como gado da violência necessária para que o sistema funcione, aquele mesmo que ele defende, procria e difunde.
Alberto Lins Caldas